sexta-feira, 24 de abril de 2009

Que razões "morais" o deus abraâmico tem?

Diego Oliveira

Um deus onisciente e onipotente que institui para sua criação algo chamado inferno não seria justo, mas sádico ou louco.

Um pai amoroso só castiga o filho por não ter o poder de intervir dentro da consciência do filho para despertá-la para o caminho correto, nem ter a ciência para saber quais serão exatamente todas as implicações de sua intervenção. Um juiz correto só condena um infrator porque não tem o poder de reverter a índole criminosa do sujeito nem a ciência para ter certeza de que o infrator não prejudicará mais a sociedade.

Mas o hipotético deus seria onisciente e onipotente, e já saberia previamente da fraqueza de suas criaturas em vida ou após a morte, da dificuldade de elas “se enquadrarem na cartilha” e teria a capacidade para pô-las no rumo correto. A onisciência e a onipotência levam portanto a justiça divina a um plano fundamentalmente diferente ao do plano humano. E o que faria este ser todo-poderoso, em sendo também benevolente? O que seria a expressão máxima possível de seu poder e sua bondade em relação ao ser humano? Provavelmente seria agir por trás das consciências humanas (de forma que a auto percepção e a autodeterminação não fossem conscientemente afetadas) para encaminhar, em vida ou após a morte, os humanos progressivamente no caminho que ele estabelece para se chegar à plenitude; e, ainda mais importante, para fazê-los sentir esta plenitude como um triunfo de seu livre-arbítrio e sua consciência mas principalmente de seu criador.

Mas o que o deus abraâmico, com sua onisciência e onipotência, faz? O deus abraâmico julga e condena os que não "estavam nos conformes” à danação eterna. Resumo: limitação de intenção; ou seja, sadismo ou loucura. O julgamento, o juízo de valor sobre méritos não coaduna com uma intenção ilimitada de bondade, que corresponderia levar toda a criação à plenitude do ser. O único mérito a ser julgado seria o fato de existir.

As religiões abraâmicas falham abjetamente ao projetar em um deus o senso de justiça humano, oriundo das limitações ontológicas se poder e ciência do ser humano. Vejo que religiões como o Budismo ou o Espiritismo são muito mais evoluídas neste aspecto.