sábado, 29 de agosto de 2009

LAVAGEM CEREBRAL
Ela é usada por militares, políticos, religiosos e gente querendo sua grana. Saiba como ela funciona e aprenda a blindar sua mente


Em 1974, Patty Heasrt, herdeira de um império de comunicação, morava na Califórnia, cursava faculdade e preparava seu casamento. Até que, numa bela noite, a patricinha foi sequestrada por um grupo paramilitar esquerdista chamado Exército Simbiônes de Libertação e dois meses depois reapareceu, armada com um rifle e uniformizada, assaltando um banco ao lado do bando. Durante um ano e meio, participou de varias ações. (...) Ninguém entendeu nada: o que transformou aquela garota rica de 19 anos em uma guerrilheira urbana? Quando foi capturada pela polícia, Patty explicou: tinha sido submetida a uma lavagem cerebral. Foram 57 dias trancada em um armário, sofrendo maus-tratos físicos e psicológicos. Teve muita gente que duvidou da explicação, achando que se tratava de desculpa esfarrapada. Mas, por outro lado, o que explicaria uma mudança tão radical? Apesar de não existir consenso sobre até que ponto é possível substituir convicções e comportamentos, não faltam estudos sobre o prcesso de LAVAGEM CEREBRAL. (...)
O que se sabe é que nesse processo, seja qual for a estratégia, é essencial o elemento surpresa. Isso porque somos programados para reagir imediatamente a estímulos intensos, ou seja, se alguém quiser provocar novas crenças e comportamentos em alguém, precisa criar situações que exijam reações automáticas, pois nelas o processo consciente é desativado.

NÃO É FORÇA, É JEITO


Existem duas maneiras de deixar o sujeito estressado, frágil, cansado e, consequentemente, mais aberto a novas ideias. A primeira é a lavagem cerebral forçada, alcançada com tortura, privações de sono e jejum. O segundo método, mais comum, é o induzido, em que a vítima é envolvida num “intensivão”. Pessoas que se dizem manipuladas por igreja e cultos religiosos descrevem um programa intenso de atividades, palestras, celebrações e tarefas como distribuir panfletos, limpar o chão, fazer comida. Imersa nessa rotina, que geralmente prevê poucas horas de sono, a vítima fica tão cansada que literalmente não tem tempo para pensar sobre o que está acontecendo. É a mesma técnica, por exemplo, daquele vendedor tagarela que o deixa confuso e faz com que você compre uma coisa de que não precisa, só pra se livrar do chato.
“Quando algo provoca uma reação emocional, o cérebro se mobiliza para lidar com ela, destinando poucos recursos a reflexões”, explica Kathleen Taylor da Universidade Oxford. Por isso que se diz que a idéia é “engatada” à sensação: sempre que aquele assunto vier a tona, a sensação vem a reboque, num processo conhecido como reflexo condicionado.
É o que acontece em um culto daqueles intensos em que a pessoa dança, canta, grita, inunda o corpo de endorfina. Inconscientemente, a sensação de bem-estar passa a ser associada àquela religião. O processo começa leve, quase recreativo, e vai aumentado de intensidade. No fim, o individuo está convertido e dependente. Para quem está observando de fora, parece que essas pessoas estão felizes. Acontece que, na verdade, elas são orientadas a sorrir o tempo todo. A pessoa envolvida com esse tipo de grupo se vê aos poucos dominada por medos paralisantes que chegam ao ponto de impedir que ela questione a situação. Os cultos de controle da mente passam a seus membros a sensação de que, se eles saírem do grupo, coisas horríveis acontecerão. Conquistado, o “cerebralmente lavado” se torna cada vez mais envolvido e dependente. Alem disso, ainda há uma hierarquia rígida à qual o sujeito deve se submeter: são criados modos uniformizados de agir e pensar, desenvolvidos para parecer espontâneos. A vitima é convencida da autoridade absoluta e do caráter especial – as, vezes, sobrenatural – do líder. (...)


MENTE BLINDADA


Para a escritora Kathleen Taylor, a principal arma para evitar manipulações é, basicamente, “parar e pensar nas coisas”. Sem se deixar levar pela afobação, fica fácil resistir tanto ao discurso nacionalista de um político quanto ao papo emocional de um pregador religioso. Outro ponto importante é não subestimar a influência que o meio e a autoridade podem ter sobre nós. A necessidade de ser aceito em um grupo leva muitas vezes ao “efeito – rebanho”, isto é “maria- vai – com – as - outras”. Desenvolver criatividade, pensar sobre a vida, questionar o que é escutado e lido, aprender coisas novas, estudar relações entre assuntos aparentemente não relacionados, tudo isso deixa o cérebro mais resistente à manipulação. (...)
O importante é saber que nossa mente não está pronta e acabada, mas permanentemente em obras. Entender que somos influenciáveis e que nossa identidade é mutante nos torna mais espertos para avaliar uma tentativa de persuasão.

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